Fazendo a Luta
John Cunha Comerford

O trabalho de John Comerford, certamente, surpreenderá aos que se acostumaram a ver as questões envolvendo trabalhadores rurais como grandes esquemas explicativos sobre a direção (muitas vezes postulada sem qualquer referência empírica) das mudanças no campo, e a pensar movimentos reivindicatórios ou de contestação apenas em função de seus objetivos formais e de suas estratégias públicas.
Aqui o que está em jogo são as ligações, aparentemente banais, mas, de fato, as mais profundas, entre movimentos ou mobilizações e a organização social. O problema em foco não é a eficácia política desse ou daquele movimento (ainda que forneça elementos importantes para pensá-la), mas é a própria “sociação”. São os vínculos que levam à criação de movimentos desse tipo; são aqueles que lhe servem de suporte ou cuja alteração pode levar a mudanças de rumo e até ao seu desaparecimento; são aqueles que mobilizações e movimentos produzem, fazendo o grupo existir socialmente, isto é, para os outros e para si mesmo. Trata-se de um trabalho que, na melhor tradição antropológica, subverte as hierarquias temáticas: ao invés dos sindicatos ou movimentos sociais como entidades, as suas reuniões; ao invés das lutas “objetivas”, o tratamento da categoria “luta”; ao invés da organização formal, as “brincadeiras” e assim por diante. Subverte também os “lugares” de busca das informações: ao invés de buscar o sério no “sério” e o lúdico no “lúdico”, vai caçar o sério no lúdico e o lúdico no sério; ou, para usar a sua própria metáfora, o “frio” no quente e o “quente” no frio. E faz isso associando, com rara felicidade, rigor e criatividade.

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