John Cunha Comerford
Os estudos sobre sindicalismo costumam ser vítimas de uma espécie de armadilha: os sindicatos sendo, ao mesmo tempo, figuras jurídicas e socialmente reconhecidas e campos de disputa pelo monopólio da representação e as duas condições já supondo um processo contínuo de produção de conhecimento, o seu estudo pelas ciências sociais é caudatário de uma pauta de questões estabelecidas nas lutas políticas e sindicais e que ganham foros de auto-evidência.
John Comerford, que, em seu Fazendo A Luta, publicado anteriormente nesta coleção, já aceitara o desafio de pensar ocupações e reuniões sindicais não pelo viés da sua eficácia política, mas focalizando a sociabilidade, oferece, neste seu novo livro, uma visão dos sindicatos e do sindicalismo que será certamente desconcertante para os que se acostumaram com a velha música. Ao invés de disputas programáticas, lutas de família; no lugar da autenticidade de classe aprioristicamente suposta, a união fabricada nas pequenas disputas, internas e externas, de todos os dias. Vinculando narrativa e ação; acionando a família e as disputas de família quando se trata de dizer do sindicato e as lutas e concepções sindicais para falar de família, questionando limites e concepções sindicais para falar de família, questionando limites e modalidades de ação de grupos supostamente corporados e supostamente (do ponto de vista conceitual) antagônicos; rompendo com o perfil costumeiro das monografias ditas tradicionais e de muitas das pós-tradicionais (ou pós-modernas), poderíamos dizer que John Comerford inova em várias frentes de conhecimento. Parece-me, todavia, que mais do que inovação, o que está em jogo é a criação de um novo solo teórico para o entendimento de sociedades como a nossa. Moacir Palmeira