A Marcha Nacional dos Sem-Terra
Christine de Alencar Chaves

Como combinar etnografia rigorosa, responsabilidade social e ambição teórica? Como fazer antropologia de um um evento complexo? Como transformar a tradição da disciplina em instrumental analítico para examinar um fenômeno contemporâneo? Como desenvolver uma análise que não toma a política como categoria naturalizada, mas sim empírica, em ação? Enfim, como fazer “antropologia da política”? Este livro de Christine de Alencar Chaves é exemplar ao tomar a Marcha Nacional dos Sem-Terra como um ritual de longa duração. ocorrido entre fevereiro e abril de 1997, e torná-lo forma privilegiada de interpretação na tradição monográfica. Nas páginas deste livro surgem tanto a singularidade da marcha como peregrinação, o penoso dia-a-dia dos marchantes, os processo sociais que se desenrolam na caminhada, o movimento da sacralização da política, quando os dilemas e as virtualidades que se apresentam à sociedade brasileira. Ao focalizar essas dimensões, a autora procura desvendar os mecanismos básicos da “fabricação do social”.
Como experimento de análise sociológica, o livro enfatiza não apenas os atores que encenaram a marcha, mas o público que a tornou relevante; não só o modo particular de construção da política do MST, como também as relações que guarda com a sociedade brasileira. Sua proposta ambiciosa é realizada página por página: a de apreender o universo significativo das cosmologias em ação, quando ideias tornam-se realizações e estas retroalimentam as primeiras. Com uma base teórica sólida, evitando os jargões costumeiros, os eventos analisados dão vida rara à etnografia minuciosa. Para o cientista social, assim como para o leitor atento à dinâmica da vida política, esta é uma leitura essencial. Mariza Peirano

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