Alguma Antropologia
Marcio Goldman

Os trabalhos reunidos neste volume testemunham parte de um trajeto iniciado há mais de 20 anos. Sempre tive um certo prazer em imaginar que ao contrário da maior parte das trajetórias intelectuais na academia, a heterodoxia da minha se traduziria por sucessivas mudanças de objeto (e, até certo ponto, de orientação) e por minha incapacidade congênita em tornar-me “especialista” no quer que seja. Meu primeiro investimento teórico e de pesquisa concentrou-se nos chamados cultos afro-brasileiros, em especial a possessão no candomblé. Em seguida, dediquei-me a um trabalho sobre a história do pensamento antropológico, mais especificamente sobre Lucien Lévy-Bruhl. Dedico-me hoje a uma investigação de “antropologia política” direcionada para o estudo do processo eleitoral e do voto na sociedade brasileira. Sempre gostei de pensar, pois, que esses objetos tão diferentes não possuíam, de fato, qualquer tipo de conexão entre si. Entretanto, essa pretensão à heterodoxia não durou muito, e passei a me dar conta, com força cada vez maior, de que uma série de questões que agora se colocam já haviam sido de algum modo antecipadas pelas pesquisas anteriores. Como disse Foucault, “acreditava-se tomar distância e no entanto fica-se na vertical de si mesmo”. De forma menos pretensiosa, suponho que a permanência de algumas questões aponta para uma certa unidade mais profunda do trabalho antropológico, unidade à qual tendemos, por vezes, a não dar a devida importância.

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